Inadimplência X Saúde Financeira Empresarial: como uma afeta a outra.
Paula Brito - 21/08/2018
A inadimplência é um problema que assola a vida de milhares de brasileiros. Segundo pesquisas, no início do segundo semestre de 2017 existia, no Brasil, cerca de 60 milhões de consumidores em situação de inadimplência, número este que representava mais de 40% da população acima de 18 anos com poder de consumo.
As dívidas em atraso trazem uma série de desvantagens, como ficar o nome sujo e perder o crédito. No entanto, esse número crescente de endividados ultrapassou a barreira das pessoas físicas e a inadimplência empresarial se tornou comum.
A crise econômica e a retração do consumo são algumas das principais causas desses problemas. Qual é, porém, o real impacto dessa situação para a saúde financeira empresarial?
Falta de pagamento de clientes
É apontada pelas organizações como a principal causa da inadimplência empresarial. Muitas acreditam que o simples fato de não receberem dos clientes as leva ao não cumprimento de suas obrigações. No entanto, o problema é muito maior do que se imagina e está atrelado diretamente a um aspecto negligenciado por parte delas: o planejamento.
Apesar da turbulência que atinge o mercado, muitos empreendimentos contraem dívidas com as quais não estão preparados para lidar. Consequentemente, isso afeta todos os envolvidos no ciclo: dos fornecedores aos clientes da empresa.
O problema está no planejamento, especialmente nas estratégias utilizadas para o gerenciamento de imprevistos e também no grau de risco que cada cliente apresenta para o negócio. Isso faz que os gestores acabem tendo de tomar atitudes mais drásticas justamente quando o problema já se tornou mais grave.
Por esse motivo, a primeira atitude deve ser a criação de políticas mais firmes com relação a clientes em atraso, bem como um controle de fluxo comercial mais ostensivo.
Os principais prejuízos para o negócio
Existe uma série de consequências trazidas pela inadimplência empresarial. Se não resolvidas em tempo, elas podem levar o negócio até mesmo à falência. Por isso, é de suma importância estar atento para atenuar os efeitos delas.
Prejudica a fidelização de clientes
A inadimplência afeta todo o ciclo da cadeia comercial. Um dos atingidos é o cliente: afina, se ele passa a comprar menos e a pagar as dívidas com atraso, isso faz que a empresa não só fique inadimplente, como sofra impactos no processo de captação de consumidores, deixando de fidelizá-los.
O cliente que não tem como quitar suas dívidas e começa a acumular juros, não só deixa de comprar como pode até procurar outro fornecedor. Diante disso, para minimizar esses efeitos, uma das primeiras ações da organização deve ser entender o que causou o não pagamento do débito.
Conhecer o problema do consumidor e demonstrar proatividade para ajudá-lo a solucionar o atraso, sem que para isso ele se sinta constrangido com as cobranças, é a melhor opção. Isso faz que ele sinta mais confiança na companhia e consiga negociar as dívidas.
Aliás, vale ressaltar que nesse aspecto, a organização pode e deve atuar rumo ao acordo. Para isso, pode, por exemplo, oferecer descontos para pagamentos à vista, melhores condições para a quitação da dívida e outras opções semelhantes.
Compromete a obtenção de lucro
A empresa não sobrevive apenas do pagamento de dívidas, ela precisa de dinheiro para investir em inovação e desenvolvimento a fim de crescer no mercado. Quando a organização está inadimplente, sua capacidade de obtenção de lucro acaba seriamente comprometida.
Por isso, ela deve procurar a negociar as dívidas para voltar pelo menos a ter algum dinheiro circulando até que o negócio se restabeleça completamente. No entanto, é preciso levar sempre em consideração os juros embutidos nessa ação, visto que ao final eles podem ocasionar uma dívida ainda maior para a companhia.
Afeta a obtenção de crédito para compras de grande valor
A inadimplência empresarial prejudica a imagem da marca diante de credores, o que afeta diretamente a obtenção de crédito para compras de grande valor. Afinal, o efeito da inadimplência atinge também os fornecedores e os credores (financeiras e bancos), e o atraso no pagamento de contratos os afasta.
Isso compromete a qualidade produtiva da companhia. Para mudar esse cenário, o primeiro passo é pagar as dívidas. Primeiro devem ser quitadas aquelas de menor valor, alto risco e/ou alto custo financeiro. Em seguida, vêm as de maior valor, alto risco e/ou alto custo financeiro e assim sucessivamente.
É importante fazer uma análise de crédito completa para determinar a capacidade de amortização do valor das dívidas com a ajuda de lucros futuros. Por isso, identificar os maiores credores do negócio é crucial, pois são eles que provavelmente podem ajudar o negócio a se recuperar no futuro.
Ainda assim, manter um bom relacionamento com todos eles é fundamental, assim como procurar negociar, explicar os atrasos e, com sorte, até obter descontos no pagamento das dívidas. Lembre-se de que manter a confiabilidade e o nome de bom pagador ajuda a mitigar os efeitos negativos da inadimplência.
Compromete os processos da empresa
O impacto do não pagamento das dívidas tem outros efeitos sobre um negócio, como o comprometimento das atividades. Uma das mais afetadas é o planejamento financeiro da empresa, pois há uma desorganização completa do processo. E isso leva a outros prejuízos, como o corte de contratações, as dispensas de profissionais, o descumprimento de contratos e a suspensão de investimentos.
Todos esses aspectos levam à perda de competitividade diante dos concorrentes, o que amplia as dificuldades do negócio de se manter no mercado. Por esse motivo, a empresa precisa estar preparada para os imprevistos, avaliar o risco de inadimplência a longo prazo e ter planos de ação contingenciais, principalmente ligadas à provisão de créditos de liquidação duvidosa.
Um dos princípios para evitar a inadimplência empresarial é a organização das finanças da compania. É essencial levar em consideração todas as variáveis que podem afetar o negócio, já que isso ajuda a minimizar os efeitos mencionados.
Todo empreendimento está sujeito a passar por esse tipo de problema. O que diferencia aqueles que conseguem se recuperar daqueles que não conseguem se reerguer é justamente sua atuação estratégica.
Fonte: Instituto de Protesto – MG.