Palestrante da 16ª Convergência, o psicanalista Rossandro Klinjey falou sobre crise e atitudes que auxiliam instituições a passarem por ela
Paula Brito - 27/09/2018
Com o tema “Há motivos para se motivar no serviço público?”, o doutor em psicanálise e escritor Rossandro Klinjey foi um dos palestrantes do segundo dia da 16ª Convergência. O Encontro Nacional de Tabeliães de Protesto de Títulos ocorreu entre os dias 19 e 21 de setembro na cidade de Cabo de Santo Agostinho, região metropolitana de Recife (PE).
Klinjey usou o exemplo da crise econômica enfrentada pelo País para mostrar que a capacidade de adaptação é decisiva para que pessoas e instituições possam se reinventar e transformar modelos antigos em algo novo que promova mudanças. “Nós estamos vivendo uma crise ética, de valores familiares, cultural e política. Vivemos hoje a maior crise da história humana. É uma crise de absolutamente tudo. O problema é que nossa capacidade de adaptação não está dando conta disso”, enfatizou o psicanalista.
Para definir o conceito de crise, o escritor citou o filósofo marxista e político italiano Antonio Gramsci. “Nós temos uma crise quando o modelo velho em sepulto já não dirige mais os vivos, mas o modelo novo não está explicitado e por isso não está qualificado para orientar o presente”, ressaltou o psicanalista.
Segundo o palestrante, para sair da crise é necessário adaptabilidade e resiliência. “Eu passo por uma pressão, depois volto ao nível normal. As grandes características a serem desenvolvidas pelos seres humanos e pelas instituições são adaptabilidade e resiliência. Não é o que acontece que determina quem eu sou, a questão é como eu reajo às dificuldades. Quem venceu a corrida da evolução das espécies segundo Charles Darwin? Foram os mais fortes ou os mais adaptáveis?”, indagou.
Ao comentar sobre sua experiência profissional ao longo dos anos, Klinjey disse que o maior obstáculo identificado em seus pacientes é o ressentimento.
“Ressentir significa sentir de novo. Mágoa é guardar um evento que aconteceu anos atrás com você. Acha que isso lhe dá condições de avançar? Do ponto de vista das ciências das emoções, é necessário amadurecer, perceber que assim como fomos vítimas de uma pessoa também já fizemos alguém sofrer”, salientou.
Em um momento mais descontraído, o escritor contou sobre sua trajetória de vida pessoal e confessou que, no passado, não gostava de estudar, mas que acabou compreendendo a importância de se dedicar à atividade após conversa com seu avô, um caminhoneiro pobre nascido no sertão paraibano.
“Meu avô nasceu em 1914. Quando tinha 14 anos, teve uma seca muito grande no Nordeste. A mãe dele chorava à noite porque não tinha o que dar de comer para os filhos. Na época, meu avô fugiu de casa e passou três dias e três noites perdido no meio do mato. Mais tarde, acabou achando uma fazenda e ficou lá como capataz durante 15 anos. Quando voltou ao sítio dos pais, eles já haviam morrido. Então, ele percebeu que precisava sair do sertão e ir para um lugar onde tivesse educação e universidade para que os seus filhos e os seus netos tivessem acesso ao que ele não teve”, contou o palestrante.
A Convergência
Neste ano, o encontro aconteceu no Sheraton Reserva do Paiva Hotel & Convention Center, localizado na cidade de Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife (PE) e foi idealizado pelo Instituto de Estudos de Protestos de Títulos do Brasil (IEPTB/BR) em parceria com a Seccional de Pernambuco.
FONTE: Jornal do Protesto de São Paulo